terça-feira, 19 de abril de 2011

De que nos fala o Mito de Sísifo?

Da morte? Do trabalho? Da disputa entre humanos e deuses? Qual relação podemos fazer entre o que nos fala esse Mito e os processos psíquicos do homem contemporâneo?
Morte, Vida. Homem, Deus. Trabalho externo, interno. O mito de Sísifo pode estar nos falando de todas essas coisas. Dicotomias cotidianas.

Quando Sísifo desafia a morte e os deuses, únicos com esse poder, Sísifo desafia a ordem das coisas. Nessa luta com os deuses Sísifo não se entrega e recebe então o castigo de rolar a pedra montanha acima infinitamente, apenas para vê-la rolar montanha abaixo justo antes de alcançar o cume.

A vida e a morte. A dicotomia da existência que impulsiona, dá esperança, força para a realização. Quando desafiamos a morte na busca pela eterna juventude, estamos deixando Sísifo se manifestar em nós? Escravos da juventude e da saúde, com pânico da morte. Não queremos morrer, queremos vencer os deuses. Mas quando não há perspectiva da morte, será a vida uma eterna repetição infinita?

Sem dúvida é a repetição de experiências, padrões de comportamento e situações, que permite a tomada de consciência e por conseqüência, mudança e evolução. Mas a repetição, paralisia no mesmo lugar, é uma forma de morte, pois sem possibilidade de mudança, conclusão de ciclos, não há vida. Se vida é transformação, Sísifo está morto?

E isso nos leva a analisar um outro aspecto que o Mito nos fala. Fechar ciclos é que transforma, gerando a energia potencial para novos projetos. Como saber até quando lutar, persistir, roubar um pouco mais de vida da morte e quando reconhecer que é sensato entregar-se, ceder, largar a pedra e seguir adiante.

Quantos de nós sentem-se sobrecarregados com um trabalho não prazeroso muitas vezes e não temos coragem de largar a pedra e começar uma nova história? Ficar preso numa mesma luta constante, num mesmo objetivo, com a energia focada em uma única direção – seja o trabalho, por exemplo – leva a uma morte em vida.

Quando o homem contemporâneo foca no trabalho sua energia total, acreditando que do dinheiro daí advindo virá a realização, a felicidade e ignora outras necessidades de realização individual, coletiva e espiritual, pode ficar reduzido ao vazio  da repetição infinita.

Mas Sísifo também nos fala do trabalho interno. No processo terapêutico há uma repetição criativa de situações, pois a evolução é uma espiral que parece sempre voltar ao mesmo ponto. Mas a cada nova experiência, fica diferente a manifestação, o sentimento, o complexo. A cada vez que Sísifo inicia a jornada com a pedra montanha acima, há sempre a esperança de um novo final. Isso é vida!

Jung ressalta quando de seu confronto com o Self (inconsciente) o quanto é importante para o Ego (consciência) aceitar seu destino. Ao Ego é solicitado algo do qual não se quer abrir mão. Esse é o momento crucial no processo terapêutico à caminho da individuação, o momento do sacrifício. Se isso não for feito a evolução não acontece.

Quantas vezes nossa voz interior mostra novos caminhos mas temos tanto medo, preguiça ou falta de esperança, que nos desviamos novamente do chamado da nossa Alma e ficamos presos na eterna repetição de sintomas, desejos, frustrações?

Só a coragem de romper, fechar ciclos, transformar é que de fato liberta.

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